sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

IMPÉRIO DO BRASIL - REGÊNCIAS : 1831 - 1840.





Em 07 de abril de 1831,
data da abdicação de D.PEDRO I,
o príncipe herdeiro do trono, o brasileiro  D.PEDRO DE ALCÂNTARA, conta com apenas 5 anos de idade.
Nesse caso a Constituição de 1824 prevê :


"Artigo 121.  O Imperador é menor até a idade de 18 anos completos.
 
Artigo 122.  Durante a sua menoridade, o Império será governado por uma Regência, a qual pertencerá ao parente mais chegado do Imperador, segundo a ordem de sucessão, e que seja maior de 25 anos.
 
Artigo 123.  Se o Imperador não tiver parente algum, que reúna estas qualidades, será o Império governado por uma Regência permanente; nomeada pela Assembléia Geral, composta por 3 membros, dos quais o mais velho em idade será o presidente.
 
Artigo 124.  Enquanto esta Regência não se eleger, governará o Império uma Regência provisional (...)".






Estando a 'Assembléia Geral' em recesso e a maioria dos deputados e senadores em viagem, reúnem-se o parlamentares que se encontram no Rio de Janeiro para escolherem uma  REGÊNCIA TRINA PROVISÓRIA  :  são nomeados os senadores
NICOLAU  PEREIRA  DE  CAMPOS  VERGUEIRO,
JOSÉ JOAQUIM CARNEIRO DE CAMPOS   (Marquês de Caravelas)
e o Brigadeiro  FRANCISCO DE LIMA E SILVA.


Eles readmitem o Ministério deposto por D.PEDRO I,
suspendem (aos regentes) o  'Poder Moderador',
suspendem a outorga de títulos,
concedem anistia política
e expulsam os estrangeiros do exército.



Ocorrendo grandes agitações nas ruas do Rio de Janeiro, provocadas por  'restauradores' e  'exaltados',  os regentes decidem
reintegrar o  "Ministério Liberal"  demitido por  D.PEDRO I,
anistiar os presos políticos,
confirmar  JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA como tutor da família real
e convocar a  'Assembléia Geral'  para escolher os regentes permanentes.



Em 18 de junho, são escolhidos os deputados
JOSÉ  DA  COSTA  CARVALHO,
JOÃO  BRÁULIO MUNIZ
e mantido o Brigadeiro  FRANCISCO DE LIMA E SILVA,
como  REGENTES PERMANENTES.






Três grupos políticos lutam pelo poder :

1.
     Os  chimangos  (liberais moderados) :
     defensores da Monarquia,
     da centralização do poder,
     do voto censitário
     e da ordem econômica e social vigentes.
     São representados pela classe dominante :  os proprietários de terras e escravos.
"Aurora Fluminense"
"Astréia" e
"O  Sete de Abril" 
são jornais aliados dos líderes
EVARISTO  DA  VEIGA  (jornalista),
BERNARDO  PEREIRA  DE  VASCONCELOS  (latifundiário) e
Pe. DIOGO FEIJÓ,
fundadores da  "Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional".

2. 
      Os   farroupilhas  ou   jurujubas  (liberais exaltados) :
      querem implantar a República,
      o Federalismo,
      a ampliação do voto  (excluindo as mulheres, escravos e índios),
      a industrialização.
      Fundam o clube  "Sociedade Federal" e divulgam suas idéias n'
"A  Malagueta",
"O  Repúblico"  e
"O  Grito  dos  Oprimidos".
Os líderes mais atuantes são
CIPRIANO  BARATA  (jornalista)  e
MIGUEL  DE  FARIAS  (major).

3. 
       Os  caramurus  ou   restauradores :
       querem a volta de D.PEDRO I  ao trono  e
       defendem a  monarquia absolutista.
São liderados por
JOSÉ BONIFÁCIO  DE  ANDRADA  E  SILVA.
Fundam os jornais :
"O  Caramuru"  e
"O  Soldado Aflito".

"Nós éramos governados por um príncipe dócil e benevolente, que era generoso com seus inimigos, que nos havia dado a Independência e a Constituição, que era o primeiro garante das nossas liberdades, que nos livrou dos horrores de uma guerra civil.
Da estabilidade do governo anterior provinha necessariamente a segurança pública, mãe do comércio, da agricultura, das artes e das ciências.
Eis o que hoje nós temos.
Nossa população e nossos fundos, elementos essenciais para a prosperidade de um país nascente, fogem de dia em dia, a emigração é espantosa, as artes estão em ócio, as ciências recuam, a ignorância, o orgulho e o egoísmo se apossam de nós (...)."
[ in  "O Caramuru", nº 11, Rio - 12/04/1832 ]







Os  chimangos conseguem nomear  FEIJÓ  para a  Pasta da Justiça, cuja principal função é manter a ordem ;  ele cria a  Guarda Nacional  (- subordinada ao  'Juiz de Paz'   de cada município, diretamente ligado ao seu Ministério)  formada por latifundiários, que compram patentes de  'coronel'.
Abaixo dos oficiais estão os cabos e os soldados  (= recrutados entre os jagunços das fazendas).

"Artigo 1º.  As Guardas Nacionais são criadas para defender a Constituição, a Liberdade, Independência e Integridade do Império;  para manter a obediência às leis, conservar ou estabelecer a ordem e a tranquilidade pública,  e auxiliar o  Exército de Linha  na defesa das fronteiras, e costas, (...)
Artigo 2º.   As Guardas Nacionais são organizadas em todo o Império por Município."
[  Lei de 18/08/1831 ]






As lutas políticas e as agitações são intensas, ocorrendo vários episódios e prisões.
Uma delas compromete o tutor  JOSÉ BONIFÁCIO,  acaba promovendo a demissão  de  FEIJÓ  e a escolha do  Marquês  de  Itanhaém  para substituir  BONIFÁCIO.






Procurando vencer a crise social e política, promulga-se em 12 de agosto de 1834 um   Ato  Adicional   à Constituição , estabelecendo :

  Regência Una , com eleição direta, para um mandato de 4 anos.
*   Extinção do  "Conselho de Estado"  (mantendo-se o  Poder Moderador  e  o  Senado vitalício).
*   Criação das  "Assembleias Legislativas Provinciais", cujos representantes são escolhidos pelo  Executivo.
*   Instalação do  "Município Neutro", no Rio de Janeiro, para sede do Império  ( e a capital da  "Província do Rio de Janeiro" passa para a Vila da Praia Grande  [= Niterói]).

"Art. 10º.  Compete Às Assembleias legislar :
1.  Sobre a divisão civil, judiciária e eclesiástica da respectiva província, e mesmo sobre a mudança da sua capital para o lugar que mais convier.
2.  Sobre a instrução pública e estabelecimentos próprios e promove-la, não compreendendo as faculdades de medicina, os cursos jurídicos, academias atualmente existentes (...)
3.  Sobre os casos e a forma que pode ter lugar a desapropriação por utilidade municipal ou provincial.
4.  Sobre a política e economia municipal, precedendo propostas das câmaras.
5.  Sobre a fixação das despesas  (...)  e os impostos para elas necessários, contanto que estes não prejudiquem às imposições do Estado."



As ordens de comando, nos exercícios navais, substituem o idioma francês pelo português.




Pe.DIOGO ANTONIO FEIJÓ   consegue derrotar por pouca diferença  HOLANDA CAVALCANTI (de Pernambuco) e elege-se  REGENTE  UNO, tomando posse em 12 de outubro de 1835 ;
enfrenta  forte oposição política de 
HONÓRIO HERMETO,
CARNEIRO LEÃO
e BERNARDO PEREIRA DE VASCONCELOS,
além da oposição do  clero, por defender o fim do celibato e por insistir na candidatura do Pe. ANTONIO DE MOURA para bispo do Rio de Janeiro.

'Partido Moderado'  se divide  em  dois :
'Partido Progressista'   - fundado pelo próprio FEIJÓ e
'Partido Regressista'  - criado pelo líder oposicionista B.P.VASCONCELOS.


Não consegue pacificar duas revoltas :

1835  -     Província do  Grão-Pará :  cabanos  insatisfeitos
com as injustiças sociais e a miséria ,
a humilhação dos aristocratas e comerciantes portugueses,
e contra a corrupção administrativa,
invadem  Belém,
assassinam o  presidente da Província, nomeado pelo governo,  BERNARDO LOBO DE SOUZA  e impõem a 'República' e o fim da escravidão  -
durante 5 anos elegem 3 Presidentes :
FÉLIX  MALCHER,
FRANCISCO VINAGRE  e
EDUARDO ANGELIM.

"Saibam (...) que os paraenses não são rebeldes ; os paraenses querem ser súditos, mas não querem ser escravos especialmente dos portugueses;
os paraenses querem ser governados por um patrício paraense que olhe com amor para as suas calamidades (...);
os paraenses querem ser governados com a lei e não com arbitrariedades,  estão todos com os braços abertos para receber o governo nomeado pela Regência  mas que seja de sua confiança, aliás eles preferem morrer no campo da batalha a entregar de novo seus pulsos às algemas e grilhões do despotismo;
se o governo da corte teimar em subjugar-nos pela força, nós teimaremos em dar-lhe provas do valor de um povo livre que esquece a morte quando defende a sua liberdade".
[ EDUARDO ANGELIM - "Manifesto aos Cabanos", 26/08/1835 ]

A repressão é violenta, comandada pelo
Marechal JORGE RODRIGUES, 
Almirante  JOHN TAYLOR  e
Brigadeiro  FRANCISCO SOARES ANDRÉIA, que obtêm a rendição total, com um saldo de 40.000 mortos  ( =30% da população do Pará ) e suplícios bárbaros, além da confecção de  'rosários'  feitos com orelhas decepadas.







Ainda em 1835,  protestando também
contra a nomeação dos presidentes provinciais,
contra os pesados impostos sobre a produção de charque e couro,  os criadores de gado do Rio Grande do Sul  iniciam um movimento revolucionário.

Tendo como exemplo as repúblicas platinas,
os  farrapos  tomam Piratini,
proclamam a  "República Sul-Riograndense"
e elegem  BENTO  GONÇALVES,  Presidente.

Sob o comando de  DAVI  CANABARRO  e  GIUSEPPE  GARIBALDI  ( casado com ANITA ), invadem  Laguna  e fundam  a  "República Juliana".

"Nossos compatriotas (...) estão dispostos como nós a não sofrer por mais tempo a prepotência de um governo tirano, arbitrário e cruel, como o atual.
Em todos os ângulos da província não soa outro eco que independência, república, liberdade ou morte.
Camaradas !  (...)  devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência desta província, a qual fica desligada das demais do império, e forma um Estado livre e independente, com o título de  "República rio-grandense", e cujo manifesto às nações civilizadas se fará competentemente.  (...)
Viva a República Riograndense !
Viva a Independência !
Viva o Exército republicano rio-grandense !"
[ Mensagem de um comandante farroupilha -  11/09/1836 ]





Centenas de  escravos malês  (= convertidos ao islamismo)  reúnem-se nas ruas de Salvador, na Bahia, protestando contra os maus tratos dos seus senhores, disso resultando muita pancadaria e a contenção do movimento.


Também em Salvador, o cirurgião  FRANCISCO  SABINO  lidera, com o apoio da classe média, outra revolta  (1837)  visando criar a  "República  Bahiense"  provisória, pois deve durar até a maioridade do príncipe   -  então a Bahia volta a ser uma província do Império do Brasil.
Nessa república a escravidão é mantida
Em 1838,
cercados por terra e mar, sob o comando do Mal.  JOÃO CRISÓSTOMO  CALADO, são cometidas as maiores atrocidades bárbaras jogando-se pessoas vivas nas casas incendiadas.
1.091 rebeldes mortos,
2.989 rebeldes prisioneiros.
Todos os chefes da  sabinadasão eliminados.






Diante da forte oposição,
da crise econômico-financeira
e do desgaste político,
FEIJÓ  renuncia em 19 de setembro de 1837, entregando o poder interinamente ao ministro e senador  PEDRO DE  ARAÚJO LIMA  (do Partido Regressista) , que concorre com  HOLANDA CAVALCANTI  ( do Partido Progressista ) e vence a eleição para  REGENTE UNO  de 22 de abril de 1838.

Cerca-se de ilustres personalidades conservadoras, formando o  "Ministério das Capacidades"  -  liderado por  BERNARDO  PEREIRA  DE  VASCONCELOS, agora  'Ministro da Justiça'.





No  Maranhão,
grandes são as desigualdades sociais e as rivalidades entre os grupos políticos favoráveis ao governo e os  'bem-te-vis'  opositores, que conseguem arrastar elementos das camadas humildes para o conflito.
"Balaio"  MANUEL  FRANCISCO DOS ANJOS,
o negro forro  COSME  DAS  CHAGAS
e o vaqueiro  RAIMUNDO  GOMES (vulgo  "Cara Preta"),
lideram negros e mulatos, índios e mestiços.
Dominam cidades e vilas do interior ; quilombolas dominam Caxias...
O Cel.  LUIS ALVES DE LIMA E SILVA, com apoio da  Guarda Nacional e de muitos  'bem-te-vis', derrota os revoltosos (1841) : 
"Balaio" é morto em combate ; 
"Cara Preta" enforcado ;
R.GOMES, preso, acabará sendo anistiado.





Entre as realizações do  conservador  ARAÚJO LIMA estão
a fundação do  "Imperial Colégio D.Pedro II",
o  "Arquivo Público",
o  "Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro",
o  "Arquivo Público",
a remodelação da Escola Militar
e a promulgação da  "Lei Interpretativa", segundo a qual as Províncias perdem sua autonomia, deixando de controlar os órgãos de polícia e justiça e a prerrogativa de nomear funcionários.







Príncipe D.Pedro de Alcântara  com  12 anos
[ pintura de  Félix Émile Taunay  -  1837 ]



Os liberais, defensores do federalismo, desencadeiam violenta campanha para antecipar a coroação do príncipe, agora com  14 anos :  isso acabaria com as revoltas e evitaria a fragmentação territorial do país.

O senador  JOSÉ MARTINIANO DE ALENCAR  funda o  "Clube da Maioridade"  e  o  deputado   ANTONIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA  apresenta o projeto para votação na Câmara.
O governo consegue adiar as sessões.

O movimento toma força e os liberais convencem D.PEDRO  a aceitar a maioridade, que finalmente é decretada em 23 de julho de 1840, quando jura a Constituição e é aclamado  "Imperador".

A manobra política liberal sai vitoriosa.




Nada muda :
os grupos dominantes requerem mais fatias do poder ;
as massas populares  ( chamada de  'canalha' , 'ínfima plebe' , 'populaça' )  tentam livrar-se da submissão e aspiram uma participação na cena política.




Os Regentes
herdam uma economia deficitária :

*   mais importação , menos exportação;
*   declínio da mineração  (esgotamento das minas e deficiência das técnicas de exploração);
*   a existência de tratados bilaterais impedem o aumento das taxas alfandegárias;
*   as emissões de papel-moeda afetam direta e violentamente a taxa de câmbio, aumentando a paridade em mil réis da libre esterlina;

*   falta de recursos dada a pequena arrecadação;
*   a concorrência das manufaturas estrangeiras e a mentalidade da classe dirigente, aristocrata rural, latifundiária, escravocrata e monocultora, impedem uma política de industrialização.


O açúcar sofre  queda brusca pela concorrência inglesa e norte-americana ;
o algodão restringe-se a importância local;
fumo, cacau, arroz e couros são produtos secundários.
Somente a  cafeicultura  começa a expandir-se.








"Para o brasileiro o  carnaval  se reduz aos três dias gordos, que se iniciam no Domingo às cinco horas da manhã, entre as alegres manifestações dos negros, já espalhados nas ruas a fim de providenciarem o abastecimento de água e comestíveis de seus senhores, reunidos nos mercados ou em torno dos chafarizes e das vendas.
Vemo-los aí, cheios de alegria e saúde, mas donos de pouco dinheiro, satisfazerem sua loucura inocente com água gratuita e o polvilho barato que lhes custa cinco réis. (...)
Nesses dias de alegria, os mais turbulentos, embora sempre respeitosos para com os brancos, reúnem-se depois do jantar nas praias e nas praças, em torno dos chafarizes, a fim de inundarem de água, mutuamente, ou de nela mergulharem uns aos outros por brincadeira ;  a vítima, ao sair do banho, pula e faz contorções grotescas, com as quais dissimula às vezes o seu amor-próprio ferido. (...)
Muitos negros de todas as idades são empregados nesse comércio até a hora da ave-maria, quando se suspendem os divertimentos.
Vi, durante a minha permanência, certo carnaval em que alguns grupos negros mascarados e fantasiados de velhos europeus imitaram-lhes muito jeitosamente os gestos, ao cumprimentarem à direita e à esquerda as pessoas instaladas nos balcões ; eram escoltadas por alguns músicos, também de cor e igualmente fantasiados."
[ JEAN BAPTISTE DEBRET - "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil" ]











 

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